terça-feira, 31 de março de 2009

DEUS NO ENCALÇO DO HOMEM

- J.R.W.STOTT -

“No princípio Deus”. Estas são as três primeiras palavras da Bíblia, conhecidas de todos nós. Representam porém mais do que uma simples introdução ao relato da criação ou ao livro de Génesis. Fornecem a chave de compreensão da Bíblia como um todo e nos afirmam que a religião da Bíblia é a da iniciativa de Deus. Nunca podemos tomar a Deus de surpresa. Nunca nos podemos antecipar a Ele. Ele sempre age primeiro. Ele sempre está “no princípio”. Deus já actuava, antes que o homem existisse. Antes que o homem pensasse em buscar a Deus, Ele já o procurara. Na Bíblia não vemos o homem tacteando por encontrar a Deus; vemos Deus indo ao encalço do homem. Muitos imaginam um deus refastelado confortavelmente num trono distante, afastado, desinteressado e indiferente às necessidades dos mortais, até que os importunos gritos do clamor humano, porventura o cansem, comovendo-o a agir favoravelmente. É um conceito falso, tangendo já nas raias da blasfémia. A Bíblia nos revela um Deus que toma a iniciativa, levanta-se de seu trono, deixa a glória e humilha-se a procurar o homem até encontrá-lo, muito antes que este, amortalhado em trevas e naufragado no pecado, procure voltar-se para o Criador.
Essa atitude prévia e soberana de Deus pode ser vista de maneiras diversas. Tomou a iniciativa da criação, ao formar o universo e tudo o que nele existe. “No princípio Deus criou os céus e a terra” (Génesis 1:1). Tomou a iniciativa da revelação, dando a conhecer à humanidade não só a sua natureza, mas também a sua vontade. “Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho” (Hebreus 1:1). Tomou a iniciativa da salvação, quando veio na pessoa de Jesus Cristo para libertar homens e mulheres de seus pecados. “Deus visitou e redimiu o seu povo” (Lucas 1:68). Deus criou. Deus falou. Deus agiu. Estas manifestações da iniciativa de Deus, de três maneiras distintas, constituem um resumo da religião da Bíblia. Neste livro referir-nos-emos principalmente à segunda e à terceira, as quais estão associadas mais estreitamente com Cristo e com o Cristianismo. Se Deus falou, sua palavra mais expressiva e final é Jesus Cristo. Se Deus agiu, a redenção do mundo por meio de Jesus Cristo é a sua mais nobre acção.
Deus falou e agiu por meio de Jesus Cristo. Algo ele afirmou. Algo ele fez. Isto significa que o Cristianismo não é simples palavrório piedoso. Não é uma colecção de pensamentos religiosos. Não é um catálogo de leis ou um rosário de exortações morais. É um “evangelho” isto é, boas novas. Como escreveu S. Paulo, boas novas de Deus “acerca de seu filho … Jesus Cristo” (Romanos 1:1-49). Em primeiro lugar, não é um convite para que o homem faça alguma coisa; é a declaração suprema do que Deus fez em Cristo, por seres humanos como nós.

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