sábado, 22 de agosto de 2009

UM GUIA SEGURO PARA O CÉU - Joseph Alleine

B – Os membros corporais
Aqueles que outrora foram instrumentos do pecado, são hoje pedras santas do templo do Deus vivo. Aquele que noutros tempos não honrara o seu corpo, agora possui esse vaso em santificação e honra, em temperança, castidade e sobriedade, e dedica-o ao Senhor.
Os olhos que outrora vagueavam desenfreados, altivos e cobiçosos, hoje entregam-se como os de Maria, à tarefa de chorar pelos pecados que cometeram, de contemplar a Deus nas Suas obras, de ler a Sua divina Palavra, e dedicando-se agora a observar os objectos de misericórdia e a procurar oportunidades de O servir.
Os ouvidos, que antes se abriam às palavras enganosas de Satanás, e que se compraziam em conversas desonestas, ou pelo menos frívolas, aplicam-se agora à porta da casa do Senhor e abrem-se aos Seus ensinamentos. «Fala, Senhor, que o teu servo escuta», dirão arrependidos, aguardando as Suas palavras como a terra sequiosa aguarda a chuva, e agradando-lhe mais que o alimento (Job 23:12), e mais ainda que os favos de mel (Salmo 19:10).
A cabeça antes repleta de intenções mundanas, eleva agora mais alto os seus pensamentos e aplica-se ao estudo da vontade de Deus, utilizando-a o homem mais para ganhar o pão do Céu do que o pão da terra. Como agradam a Deus tais pensamentos!
O coração, que era um lodaçal de prazeres imundos, transformou-se num altar de incenso, onde arde continuamente o fogo do amor divino, e do qual se elevam dia a dia os sacrifícios de oração e de louvor, e o suave incenso de santos desejos.
A boca tornou-se um poço de vida; a língua e os lábios, instrumentos para espalhar a verdade. O sal da graça condimentou-lhe a fala e tirou-lhe a corrupção (Col. 4:6), purificando o homem das suas conversas desonestas, da lisonja, da vanglória, das injúrias, da mentira, da blasfémia, que outrora saíam como relâmpago do Inferno, que era o seu coração (Tiago 3:6). A garganta, em tempos sepulcro aberto, emite agora a brisa suave da oração, e o homem exprime-se noutra língua, a língua de Canaan, e só está bem quando fala de Deus e de Cristo, e bem assim de assuntos respeitantes à outra vida. A boca é fonte de sabedoria e a língua trombeta dos louvores e da glória do Criador.
Fora, pois, com a hipocrisia! O convertido não imita o hipócrita, cujas mãos são brancas e puras exteriormente, mas cujo coração está cheio de veneno e podridão (Mat. 23: 27), como um forno cheio de prazer, de orgulho e de malícia. Tal como a estátua de Nabucodonosor, tem a cabeça dourada, porque cheia de sabedoria, mas os pés de barro, porque sendo mundanos e afectos, os caminhos a trilhar não podem deixar de ser imundos e sensuais. Ainda não é tudo.

C – A vida prática
O novo homem segue um rumo diferente (Efés. 2:2-3), porque a sua nova habitação é celestial (Fil. 3:20). Mal Cristo o chama pela graça eficaz, já ele está pronto a segui-Lo. Quando Deus lhe deu um novo coração, imprimindo-lhe no espírito a Sua lei, começou ele a andar nos caminhos de Deus e a guardar os Seus mandamentos. Embora perseguido pelo pecado, nunca este o dominará. Mesmo que cometa uma falta, trará sempre presente a lei e a vida de Jesus, que seguirá como modelo, nunca deixando de respeitar os mandamentos de Deus. Desde o mais pequeno pecado até à maior das obrigações, tudo lhe será presente. As suas enfermidades serão motivo para dar graças a Deus e não para desanimar ou desesperar. (Leitor amigo, não deixes de reparar bem nesta doutrina!). O convertido sincero não tem duas caras: uma em casa e outra na igreja. Uma, de joelhos, na igreja, e outra enganando, na loja. Não pretende piedade, desprezando a moralidade. Mas volta-se do pecado e guarda todos os mandamentos de Deus, embora não perfeitamente. Agora alegra-se com a Palavra de Deus, abre as mãos e a alma aos famintos. Rompe com o pecado, praticando a justiça, e com a iniquidade, usando de misericórdia para com os pobres (Daniel 4:27). Tem uma consciência recta disposta em tudo a viver honestamente (Heb. 13:18) e a conservar-se sem ofensa diante de Deus e dos homens.
Aqui de novo encontrais o erro daqueles que se julgam bons cristãos. Não são imparciais na lei (Mal. 2:9). Iniciam as suas obrigações religiosas, embora de pouca monta, mas não vão avante na empresa. São como um bolo, meio cozido e meio cru. Podeis até considerá-los correctos, pontuais, mas na prática não se exercitam na santidade. Quanto a examinarem a consciência e a dominarem o coração, não é com eles. Podeis vê-los pontualmente na igreja, mas segui-o em casa e vereis como lhe interessam mais os negócios do mundo. Caso tenham deveres familiares, se os seguirdes mais de perto ainda vereis como nada se preocupam com a alma. Pode ser que pareçam na realidade bons cristãos, mas não refreiam a língua, e portanto é inútil a sua religião (Tiago 1:26). Pode ser que não deixem de orar, mas se os observardes ao balcão da sua loja, aí os vereis mentindo e enganando sem escrúpulos. É por isso que o hipócrita nunca pode ser um bom cristão.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

UM GUIA SEGURO PARA O CÉU - Joseph Alleine

4. A causa final ou o fim da conversão é a salvação do homem e a glória de Deus. Fomos escolhidos pela santificação para a salvação (II Tess. 2:13), chamados para sermos glorificados (Rom. 8:30), mas especialmente para que Deus fosse glorificado (Isaías 60:21), para que manifestássemos os Seus louvores (I Ped. 2:9) e frutificássemos em boas obras (Col. 1:10).
Ó cristão, não esqueças a finalidade da tua vocação. Que a tua lâmpada brilhe, que os teus frutos sejam bons e abundantes, e naturalmente próprios da estação (Salmo 1:3). Que os vossos desígnios coincidam com os de Deus, para que Ele seja glorificado em vós (Filip. 1:20).

5. Quem deve converter-se? O pecador eleito e no seu todo, de corpo e alma. Aos que Deus predestinou, a esses também chamou (Rom. 8:30). Ninguém vem a Cristo por sua livre vontade ou só pela fé, mas só as ovelhas que o Pai lhe confiou (João 6:37 e 44). A vocação eficaz coincide com a eleição eterna (II Ped. 1:10).
Começais mal, se pensardes primeiramente como fostes escolhidos. Não, antes de mais a conversão, e em seguida não há dúvida da escolha. O que Deus promete é infalível! Mas já estou a ouvir a voz dos rebeldes: «Se me escolheram, estou salvo, suceda o que suceder; se não me escolheram, estou condenado, quer queiram quer não». Mas como? Desconheceis a Palavra de Deus? Ouvi-a: «Arrependei-vos e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados». Se mortificardes as obras do corpo, vivereis». «Crede e sereis salvos» (Actos 3:19; Rom. 8:13; Actos 16:31). Quereis mais claro que isto? Não comeceis então por saber se sois eleitos ou não, mas arrependei-vos e tende fé. Pedi a Deus a graça da conversão. A fé revelada pertence-vos: cuidai dela. Assimilai-a. Alimentai-vos da Palavra de Deus, cujas promessas são infalíveis. Sejam quais forem os desígnios do Céu, tende a certeza que o arrependimento e a fé vos salvarão. Quem não se arrepender tem certa a condenação. Não será motivo suficiente para caminhardes com firmeza no caminho da vida eterna?
Mas quem dum modo particular deve converter-se? Todos, absolutamente todos os homens. Instintos de bondade não bastam. Uma boa educação não é sinónimo de conversão. Conversão é mais do que a simples reparação dum edifício. É a demolição completa e total, para se erguer uma nova estrutura. Não se trata de coser um remendo, mas renovar por completo um guarda-roupa. Isto é que é a conversão. O cristão sincero é, por assim dizer, um edifício novo, dos alicerces ao telhado; um vestido ou um fato a estrear. Sendo assim, é uma nova criatura, pois tudo se renovou (II Cor. 5:17). A conversão é uma obra de renovação. Um novo homem num mundo novo. Vejamos agora, pormenorizadamente, como essa renovação se estende ao espírito, aos membros corporais e à vida prática.

A – O espírito
A conversão modifica a balança do juízo final, de sorte que Deus e a Sua glória pesam mais do que os interesses carnais e mundanos. Pela conversão abrem-se os olhos da inteligência, caem as escamas da ignorância primitiva e voltam-se os corações das trevas para a luz. Quem antes não compreendia o perigo em que se encontrava, julgava-se perdido para sempre, mas agora renovado pelo poder da graça. Aquele que outrora já nada via mal no pecado, agora considera-o o pior de todos os males. Vê nele o absurdo, a injustiça, a deformidade, evita-o e aborrece-o (Rom. 7:15; Job42:6; Ezeq. 3631). Aquele que só conhecia pequenos pecados, não achando motivo para os confessar a Deus, descobrirá agora quão profunda era a corrupção de todo o seu ser, e exclamará: «Quanta impureza, meu Deus!Aspergi-me com o hissopo, lavai-me completamente, dai-me um coração puro». É como se fosse uma árvore apodrecida desde a raiz até aos mais brandos rebentos (Salmo 14:3; Mat. 7:17-18). Agora descobre ainda recantos pecaminosos, que desconhecia, e onde se anichavam crimes hediondos, como a blasfémia, o homicídio, o adultério. Até aqui nada interessava em Cristo, cuja beleza lhe passava despercebida; mas agora encontrou o tesouro escondido e vende tudo até comprar o campo. Cristo é a pérola que procura.
Em conformidade com a nova luz, modificou-se o espírito do homem. Agora Deus vive com ele, e para ele é a suma felicidade que neste mundo pode desejar. Nada se Lhe compara, nem os mais úteis e necessários dos bens materiais, como o trigo, o vinho e o azeite, em que outrora se deliciava (Salmo 4:6-7). Um hipócrita pode concordar que Deus é o Sumo Bem. Assim o pensaram alguns pagãos célebres. O que o hipócrita ou o pagão não é capaz é de se aproximar desse Bem, para o possuir definitivamente. Esta é a voz do convertido: «O Senhor é a minha herança, diz a minha alma. A quem tenho eu no Céu, senão a Ti? E na terra não há quem eu deseje senão a Ti. Deus é a força do meu coração e a minha herança para sempre. (Lam. 3:24; Salmo 73:25-26).

A conversão modifica a vontade quanto aos meios, e quanto ao fim a atingir. Transformadas as intenções da vontade, os fins e os desígnios do homem são outros. Agora procura Deus acima de tudo, e nada ambiciona neste mundo senão a Sua glorificação. Julga-se mais feliz do que antes, com todas as riquezas da terra, aspirando apenas servir a Cristo e dar-Lhe glória, para que o Seu nome seja cada vez mais conhecido.
Leitor, és capaz de ler estas páginas sem perguntar a ti mesmo se é isto que se passa contigo? Pára um pouco e examina a tua consciência.
Modificaram-se as preferências. Fixa-se a Deus como sua felicidade, e a Cristo como meio de o conduzir a Deus. Escolhe Jesus para seu Senhor. Vem a Cristo, não forçado pelas circunstâncias, nem por mera necessidade, mas espontâneamente e com alegria. Nada de consciências atemorizadas! Não é o caso do pecador moribundo, a quem se coloca na alternativa de escolher entre Cristo e o Inferno, e naturalmente opta por Aquele. Não. De livre vontade resolve aderir a Cristo, que prefere a todos os bens deste mundo, enquanto viver (Filip. 1:23). A santidade será o novo caminho a seguir, embora não o faça por necessidade, mas por amor. «Escolhi o caminho dos teus preceitos» (Salmo 119:173). E com que prazer suporta o jugo de Cristo! A santidade não é já o medicamento amargo que se toma para fugir à morte, mas sim um alimento gostoso que se toma sempre com prazer. Que agradável o tempo dispendido nos exercícios da santidade! E é isto que lhe causa prazer à vista e alegria ao coração! Pergunta à tua consciência se és tu este homem, bem-aventurado. Mas cautela, que sejas imparcial neste conhecimento de ti mesmo.

A conversão modifica a inclinação dos sentimentos,
que passam a levar outra orientação e a circular, por assim dizer, num novo canal. É o Jordão que volta atrás, com as águas correndo em sentido contrário ao natural. Cristo é a sua esperança. E este é o prémio. Tal como o negociante de pérolas alija toda a carga ao mar, só para não perecer e uma jóia preciosa que consigo traz, assim o convertido tudo perde, para não perder a graça. Por isso procura-a ardentemente, como se tratasse do mais valioso dos tesouros humanos. De posse dele, ficará sendo santo e mais feliz do que o mais letrado, o mais famoso e o mais rico dos homens. Outrora dizia: «Oh! se fosse grande a minha reputação, se nadasse em riquezas, nada faltando a mim e aos meus, que felicidade suprema! Era com certeza o mais feliz dos homens!» Agora, porém, é outra a fala do convertido: «Oh! se eu tivesse submetido as minhas paixões e conseguido a graça e a amizade de Deus, embora pobre desprezado, seria um homem feliz e bem-aventurado». Leitor amigo, será esta também a linguagem do teu coração?
As tuas alegrias modificaram-se. Alegra-se agora tanto no caminho dos testemunhos de Jesus, como outrora em todas as riquezas. Rejubila na lei do Senhor, quando outrora pouco interesse ela lhe despertava. A sua única alegria é viver e alegrar-se em Cristo e na Sua companhia, e na prosperidade do Seu povo.
Modificaram-se também as suas preocupações. Em tempos dedicava-se totalmente ao mundo e aos seus problemas. Para a alma, uns escassos momentos livres, quando muito. Hoje o seu grito é este: «Que devo fazer para me salvar?» (Actos 16:30). A grande preocupação é assegurar a salvação da alma. Oh! como ficaria contente, se te visse proceder do mesmo modo!
Os seus temores hoje já não são tanto os de sofrer como de pecar. Antigamente era o receio de perder a sua posição social, a sua reputação perante o mundo, a dor, a pobreza, a desgraça. Agora, tudo isso é nada, comparado com o desprezo por amor de Deus. Com que prudência agora caminha, para evitar as ciladas do inimigo! Olha para todos os lados, rodeia-se de todas as precauções, para não cair no pecado. Agora nada o apoquenta como o separar-se de Cristo.
O seu amor toma outra orientação. «O meu Amor foi crucificado», exclama Inácio, referindo-se a Cristo. «Este é o meu amado, brada a esposa (Cant. 5:16). Quantas e quantas vezes Agostinho confia o seu amor a Cristo, não encontrando palavras apropriadas para o exprimir: «Permite que eu veja, ó Luz dos meus olhos! Vem, ó alegria do espírito! Deixa-me possuir-te, ó regozijo do meu coração! Deixa-me mostrar-te o meu amor, ó vida da minha alma. Vive junto de mim, ó meu grande prazer, meu doce conforto. Ó meu Deus, minha vida, e toda a glória da minha alma. Permite que te encontre, ó desejo do meu coração, e te possua, Amor da minha alma. Permite que te abrace, ó esposo celestial, e que sejas meu!»
Tomarão outro caminho as suas tristezas (II Cor. 7:9-10). A vista do crucificado e o conhecimento dos seus pecados, que tanta aflição lhe causavam, são hoje motivos que muito lhe alegram o coração!
É grande o seu ódio contra o pecado, a ponto de se considerar louco, por não o poder contemplar (Salmo 73:22; Prov. 30:2). Podia outrora atolar-se nele com prazer; agora detesta o pensamento de a ele voltar.
Consulta o coração e vigia a corrente geral dos teus sentimentos, verificando se acima de qualquer outro interesse, todos eles se dirigem a Deus, em Cristo. É certo que se encontram muitas vezes nos hipócritas bruscas mudanças, especialmente quando estes são de temperamento quente. Pelo contrário, os bons cristãos, de temperamento mais lento no geral, sem sequer têm consciência do despertar desses sentimentos. O principal é determinar com firmeza a nossa posição perante Deus, colocando-O acima de todos os outros bens, reais ou aparentes. Se assim for, e mercê duma boa orientação, podemos ter a certeza de que a alteração verificada foi salvadora.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

UM GUIA SEGURO PARA O CÉU - Joseph Alleine

NATUREZA DA CONVERSÃO

Não tenho coragem de vos deixar com os olhos semicerrados, como aquele que «via os homens como se fossem árvores ambulantes». Com a Palavra de Deus doutrinamos e repreendemos. Por isso, tendo-vos conduzido através dos baixios e das rochas de tão perigosos erros, quero agora guiar-vos para o porto da verdade, descrevendo a natureza da conversão.

1.O Autor da conversão é o Espírito de Deus e, por isso, é chamada «a santificação do Espírito» (II Tess. 2:13) e «a renovação do Espírito Santo» (Tito 3:5). Este facto não vem excluir as outras pessoas da Trindade, pois o apóstolo ensina-nos a bendizer o Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, «que nos gerou de novo para uma viva esperança» (I Ped. 1:3). De Cristo diz-se que «dará o arrependimento a Israel» (Actos 5:31). Isaías chama-lhe «Pai Eterno» (Isaías 9:6) e nós somos a Sua descendência e «os filhos que Deus Lhe deu» (Heb. 2:13). Como é obra principal do Espírito, daí dizer-se que devemos «renascer do Espírito» (João 3:5-6).
A conversão é, por conseguinte, algo que supera o poder humano. «Não nascemos do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus» (João 1:13). Não penseis que a conversão pode ser obra vossa. Em tal caso, superando as vossas forças, viria de mais longe, ou melhor, de mais acima. É uma ressurreição dos mortos (Efés. 2:1), uma nova criação (Gál. 6:15; Efés. 2:10), uma obra de absoluta omnipotência (Efés. 1:19). Ora tudo isto não está fora do alcance das forças humanas? Se pelo primeiro nascimento conseguistes uma natureza afável, um temperamento meigo e casto, ainda estais longe da verdadeira conversão, porque tudo isso não basta. Há ainda algo de sobrenatural.

2. A causa eficiente da conversão é tanto interna, como externa.
A – A causa interna é a graça livremente concedida. «Não é pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a Sua misericórdia, que nos salvou» e ainda «pela renovação do Espírito Santo» (Tito 3:5). «De Sua vontade nos gerou» (Tiago 1:18). «Escolheu-nos para a santificação» (Efés. 1:4).
Deus nada encontra no homem que Lhe inspire amor; só tédio e, se possível, rancor. Reconsidera, ó cristão! Pensa na tua natureza imunda, no lodaçal em que em tempos te revolveste com prazer! (II Ped. 2). Eis aí a tua corrupção! Até o próprio vestuário te há-de abominar (Job 9:31). Como é que a santidade e a pureza te hão-de amar? Reparai, ó céus! Toma atenção, ó terra! Quem precisa de gritar: Graça! Graça! (Zac. 4:7). Ouvi e envergonhai-vos, ó filhos do Altíssimo! Ó ingratos, que assim desprezais a graça de Deus. Muitos até julgam que louvais e admirais a Deus incessantemente e em toda a parte. Porque desperdiçais tão grande graça?Foi por ela que Deus vos amou! Com que santos afectos Pedro ergue as mãos e exclama: «Bendito seja o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a Sua grande misericórdia, nos gerou de novo» (I Ped. 1:3). E Paulo, quão expressivamente engrandece a misericórdia de Deus, «riquíssimo em misericórdia pelo Seu muito amor com que nos amou, vivificando-nos juntamente com Cristo. E pela graça sois salvos!» (Efés. 2:4-5).
B – A causa externa é o mérito e a intercessão de Jesus. Dons, obteve-os até para os rebeldes (Salmo 78:18), e por Ele Deus opera em nós aquilo que é agradável na Sua presença (Heb. 13:21). Por Ele as bênçãos espirituais são distribuídas dos céus (Efés. 1:3). Intercede pelos que não crêem (João 17:20). Toda a conversão é fruto da Sua obra. Nenhum ser humano que vem a este mundo sofre tanto como Cristo sofreu por nós, em especial na cruz. Ele nos trouxe a santificação (I Cor. 1:30). Santificou-se a Si, isto é, separou-se como sacrifício, para que fôssemos nós santificados (João 17:19). Santificamo-nos então pela oferta do Seu corpo uma vez para sempre (Heb.10:10).
Só o mérito e a intercessão de Cristo, como vemos, pode conceder-nos, perante Deus, a graça da conversão. Se sois uma nova criatura, sabeis mui bem a quem o deveis: Aos sofrimentos e às orações de Cristo. Tal como a criança procura avidamente o seio materno, assim o crente busca Jesus Cristo. Se alguém no mundo fizer por ti o que Cristo fez, segui-lo não é erro. Satanás reclama-vos? O mundo acaricia-vos? O pecado deseja conquistar-vos o coração? Mas como? Quem morreu na cruz por vós? Estes ou Cristo? Portanto, ó cristão, não deixes de amar e servir ao Senhor enquanto viveres neste mundo.

3. O instrumento da conversão é pessoal e real.
A – O instrumento pessoal é o ministro. «Em Cristo Jesus gerei-vos pelo Evangelho» (I Cor. 4:15) . Os ministros de Cristo são aqueles que foram enviados para nos abrir os olhos e conduzir-nos a Deus (Actos 26:18). Oh! mundo ingrato! Não sabias o que fazias, quando perseguias os mensageiros do Senhor! Não sabias que a missão deles era salvar-te? A quem censuraste e blasfemaste? (Isaías 3723). São estes os servos do Deus altíssimo que te traziam o caminho da salvação (Actos 16:17), e tu os recusaste, ó insensato e louco mundo! (Deut. 32:6). Ó filho da ingratidão, de quem escarneceis? São estes os instrumentos que Deus utiliza para converter e salvar os pecadores. Já se viu alguma vez ultrajarem-se os médicos ou lançarem-se ao mar os pilotos do navio? «Pai, perdoai-lhes, pois não sabem o que fazem».
B – O instrumento real é a Palavra de Deus. Fomos gerados pela palavra da verdade. É ela que ilumina os olhos e converte a alma (Salmo 19:7-8), e nos faz conhecer a salvação (II Tim. 3:15). Ela é a semente incorruptível pela qual nascemos de novo (I Ped. 1:23). Se nos lavamos e purificamos é pela Palavra (Efés. 5:26). Se fomos santificados é pela Verdade <8joão 17:17). É esta que gera a fé e nos regenera (Rom. 10:17; Tiago 1:18).
Como deveis, ó cristãos, amar essa Palavra, pela qual vos veio a salvação e a conversão! Vós que sentistes o seu poder renovador, estimai-a enquanto fordes vivos. Trazei-a bem fixa no coração. Quando caminhares, ela te guiará. Deitado, guardar-te-á. Acordado, falará contigo (Prov. 6:21-22). Dizei com o Salmista: «Nunca me esquecerei dos teus preceitos, pois por eles me tens vivificado» (Salmo 119:93). E vós, que ainda não estais convertidos, lede a Palavra de Deus com diligência. Reuni-vos onde ela é pregada. Orai pela vinda do Espírito na Palavra. Muitas vezes um sermão não tem o êxito devido porque não é banhado em lágrimas e orações.

sábado, 15 de agosto de 2009

UM GUIA SEGURO PARA O CÉU - Joseph Alleine

Converter-se não significa ser justo moralmente. Deste modo não ireis além da justiça dos escribas e dos fariseus e, portanto, esta não vos levará ao reino de Deus (Mat. 5:20). Antes da conversão, Paulo também praticava a justiça dentro da lei, e assim era irrepreensível (Filip. 3: 6). O fariseu do Evangelho exclamava orgulhosamente: «Não sou ladrão, injusto, adúltero, etc.» (Luc. 18:11). É possível que as vossas qualidades vão ainda mais além mas, se fordes vós a justificar-vos, não tereis a bênção de Deus. Não condeno a moralidade, mas aconselho-vos a ir mais além. A piedade inclui a moralidade, assim como o Cristianismo a humanidade, e a graça a razão. Mas nada de confusões!

Converter-se não significa conformar-se externamente às normas de piedade. É certo que se pode ter um aspecto de santidade, mas não eficaz (II Tim. 3:5). Pode-se orar muito (Mat. 23: 14), jejuar frequentemente (Luc. 18:12), ouvir de bom grado (Mar. 6:20) a Palavra de Deus, ser diligente no serviço de Deus, mesmo dispendendo grandes somas (Isaías 1:11), e no entanto estar muito longe da conversão. É necessário mais alguma coisa do que frequentar a igreja, dar esmolas, orar e julgar-se filho de Deus. Hipocrisia e nada mais, mesmo que se desse toda a fortuna aos pobres, e o corpo às chamas (I Cor. 13:3).

Converter-se não é a fuga da corrupção pela educação, pelas leis humanas, ou ainda pela força das circunstâncias. É tão frequente e fácil confundir-se educação com graça. Se assim fosse quem melhor do que Joás? Enquanto viveu seu tio, Joiada, foi tão zeloso no serviço do Senhor que tomou a peito reparar a casa de Deus (II Reis 12:2-7). Aparências, que iludem! Muito gentil, sem dúvida, mas logo que o tio desapareceu, ei-lo caído na idolatria!
A conversão não consiste, pois, na iluminação ou na convicção, nem numa mudança superficial ou reforma parcial. Um apóstata pode ser um iluminado (Heb. 6:4), um Félix pode ficar espavorido (Act.24:25) e um Herodes praticar boas acções (Mar.6:20). Uma coisa é alarmar o pecado só por convicções, outra crucificá-lo pela graça da conversão. Com a consciência atormentada pelo pecado, muitos confundem convicção com conversão. Deste modo Caim teria passado por um convertido, até que a sufocou dedicando-se à construção e ao comércio. Outros julgam que já se encontram na realidade convertidos só porque se afastaram de caminhos desregrados, abandonaram más companhias ou outros prazeres e passaram a ser sóbrios e moderados, aliás, mais civilizados. Esquecem assim que há uma grande diferença entre santidade e civilização! Esquecem que muitos procuram entrar no reino dos Céus, e não estão muito longe dele. Enquanto a consciência os domina, há muitos que oram, ouvem, lêem e até se abstêm de pecar; mas depressa voltam a cair na vida pecaminosa de outrora. Quem mais religioso do que os judeus, quando a mão de Deus pesava sobre eles? No entanto, ainda não tinham passado as aflições e já estavam a esquecer-se de Deus. Podeis abandonar o pecado e fugir da corrupção do mundo, sem contudo modificardes a vossa inclinação natural.
Mediante um molde apropriado, um pedaço de chumbo pode transformar-se sucessivamente numa planta, num animal e até num homem, ou melhor, tomar a forma de planta, de animal e de homem, mas nunca deixará de ser um pedaço de chumbo. Assim o homem passar por várias transformações, desde a ignorância até à mais alta ciência, até à religião, inclusivamente, mas não deixará os seus instintos carnais nem a sua alma passará a ser regenerada, em suma, a natureza não se modificou.
Ouvi então, ó pecadores, como orientar a vossa vida. Porque vos iludis numa esperança infundada? Sei que é difícil afastar essa esperança, o que se torna desagradável não só para vós, mas até para mim. É o caso do cirurgião que, custe o que custar, tem de separar do corpo são o membro nocivo. Mas procurai compreender-me, meus amados irmãos, porque doutra maneira é grande o prejuízo. A casa ameaça ruína? Muito simples: que seja derrubada imediatamente, para que ninguém dum momento para o outro fique sepultado debaixo dos escombros. E então, mãos à obra. Surgirá uma nova construção mais bela, mais sólida e mais permanente. A esperança dos maus perecerá (Prov. 11:7). E não será melhor, ó pecador, deixares-te convencer pela Palavra de Deus, abandonando as tuas falsas esperanças, para que a morte não te surpreenda, e só no Inferno te venhas a arrepender? Eu seria um falso pastor, se não vos avisasse, vendo-vos tão tranquilos a assentar arraiais no terreno inconsistente e movediço do pecado. Deixai a consciência falar. O que é que vos recomenda, o nome de cristão que usais?
O serdes membro da igreja visível? O conhecimento que tendes dos princípios da vossa fé? A civilização de que gozais? O cumprimento dos deveres religiosos? Um rebate da consciência quando pecais? Digo-vos no Senhor que, perante o Tribunal de Deus, nada disso é suficiente, embora nada seja mau em si, mas não prova a vossa conversão, que é indispensável para vos salvardes. Quando vos resolveis então? Examinai o coração, e não espereis que seja só Deus a agir. Ou mudais de vida, ou estais irremediavelmente perdidos.
Se isto se passa com os que se dizem crentes e cristãos, que direi dos outros? Esses nem se dão ao trabalho de me ler ou ouvir. Mas fiquem sabendo que é a Deus que não ouvem nem lêem, e que estão ainda muito longe do Reino de Deus. Se quem acompanha as virgens prudentes ainda se arrisca a ficar à porta, que sucederá aos que seguirem o exemplo das loucas? Pode uma delas ser recta nas suas intenções e fiel na sua conduta, e não justificada diante de Deus? Que será de ti, pois, ó homem perverso, cuja consciência te diz que és falso em tudo? Se os homens podem ser iluminados e levados à prática externa dos deveres sagrados, e mesmo assim se perdem por não se converterem, que será de vós, ó miseráveis, que viveis sem Deus? E vós, ó pecadores, que mal pensais em Deus, e não orais, ou não quereis orar? Arrependei-vos e convertei-vos, afastando-vos do pecado pela justificação. Cristo está pronto a perdoar e a conceder de novo as Suas graças. Entregai-vos a Ele, para com Ele serdes santos. Doutro modo nunca O vereis. Porque não prestais atenção aos conselhos de Deus? Mais uma vez no Seu nome sou a avisar-vos. Sede sóbrios, justos e bons. Lavai as mãos, ó pecadores; purificai o coração, ó vós que estais indecisos! Deixai o mal e aprendei a fazer o bem (Prov. 1:23 e 9:6; Tito 2:12; Isaías 1:16,17). Se continuardes morrereis.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

UM GUIA SEGURO PARA O CÉU - Joseph Alleine

ERROS ACERCA DA CONVERSÃO

O Diabo inventou vários tipos falsos de conversão, com que ilude a boa fé dos simples. E é tal a força e o artifício dessa ilusão que, se fosse possível, os próprios eleitos seriam arrastados também nessa onda. Agora, para afastar do erro os que pensam que já estão convertidos e de facto não estão, e dissipar os temores dos que ainda não se julgam no bom caminho e, na realidade, já lá se encontram, vou falar da natureza da conversão, dizendo primeiramente o que não é.

Converter-se não é professar o Cristianismo. O Cristianismo é mais que um nome. Se ouvirmos a voz de Paulo, veremos que é poder e é virtude (I Cor. 4:20). Se o deixar de ser judeu ou pagão e professar o Cristianismo fosse uma verdadeira conversão (como muitos talvez pensem), que melhores cristãos queremos que os de Sardes ou Laodiceia? Todos eles eram cristãos, mas só de nome; por isso Cristo os condenou e ameaçou de os abandonar definitivamente (Apoc. 3:14-16). Não há muitos que invocam o nome de Jesus, e não se afastam da iniquidade (II Tim.2:19), dizendo conhecer a Deus mas negando-O por obras? (Tito 1:16). Será que Deus os considera realmente convertidos? Como?! Converter-se do pecado, e nele continuar a viver? Que contrasenso! Certamente se tivessem prontas as lâmpadas da fé, as virgens loucas não teriam ficado fora da porta (Mat. 25:12). Não somente vemos excluídos falsos cristãos, mas até pregadores de Cristo, e apenas porque praticam a iniquidade (Mat. 7: 22-23).

Converter-se não é revestir-se das insígnias de Cristo no baptismo.
Ananias e Safira, e o próprio Simão Mago, foram baptizados como os restantes. Quantos caem em erro, enganando e sendo enganados, ao pensar que a graça eficaz está necessariamente ligada à administração externa do baptismo, de tal forma que todo o baptizado automaticamente se regenera, não só sob o ponto de vista sacramental, mas real e em todo o sentido da palavra. Daí imaginam que por serem regenerados no baptismo, não há necessidade de outra obra. Mas, se assim fosse, todos os baptizados seriam infalivelmente salvos, porque a promessa do perdão e a salvação foram feitas à conversão e regeneração (Actos 3:19 e Mat. 19:28). Com efeito, se conversão e baptismo se identificam, basta à hora da morte ter presente o certificado do baptismo para, em presença dele, se ter a certeza de entrar no Céu.
Em suma, se para a conversão ou regeneração basta o baptismo, não fala verdade a Escritura, por exemplo em Mat. 7:13-14. Sendo assim, não mais diríamos: «Estreita é a porta, e estreito o caminho», porque se todos os baptizados se salvam, a porta seria bastante larga e diríamos então: «Larga é a porta, e largo o caminho que conduz à vida». Neste caso, milhares e milhares podem caminhar lado a lado, e nunca mais diremos que os justos dificilmente se salvarão ou que o reino dos céus se conquista pela violência (I Pedr.4:18; Mat. 11:12 e Luc. 13:24). Se o caminho é tão fácil, como muitos supõem, certamente pouco mais é necessário do que ser baptizado e clamar: «Senhor, tem misericórdia de mim». Não é preciso sequer procurar, bater à porta, lutar, como a Palavra de Deus determina. Sendo assim, não diremos: «Poucos o encontrarão», mas: «Poucos o perderão». Também não voltaremos a exclamar: «Muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos» (Mat. 22:14), nem que «sendo muitos os filhos de Israel, só um remanescente será salvo» (Rom. 9:27). Se esta doutrina fosse verdadeira, não perguntaríamos com os discípulos: «Quem será salvo?», mas antes: «Quem não será salvo?» Sendo assim, se alguém for baptizado, mesmo que seja impuro, murmurador avarento ou beberrão, será herdeiro do reino dos céus! (I cor. 5:11 e 6:9,10).
Muitos irão objectar: «Mas todos aqueles que pecarem, depois de terem recebido a graça regeneradora no baptismo, precisam de ser renovados, ou então não se salvarão».
Primeiramente, há uma infalível relação entre a regeneração e a salvação, como já vimos.
Em segundo lugar, é preciso nascer de novo, o que parece um absurdo. Seria possível nascer duas vezes na natureza, ou fisicamente, tal como é possível na graça ou espiritualmente.
Finalmente e acima de tudo, é esta graça que concede tudo quanto se pretende receber no baptismo, mas se pouco depois caírem na ignorância e perderem o poder da santidade, então necessitam absolutamente de «nascer de novo» (João 3:7) ou então ser-lhe-ão fechadas as portas do Céu.
Independentemente do que se recebe no baptismo, se não possuírdes a santificação, é necessária uma renovação por meio de uma mudança radical e eficaz, ou então não escapareis à condenação do Inferno. «Nada de ilusões; com Deus não se brinca». Seja qual for o vosso baptismo, sejam quais forem as vossas intenções, garanto-vos da parte do Deus vivo que, se não fordes homens de oração, evitando a murmuração e as más companhias (Prov. 13:20), numa palavra, se não fordes santos, desinteressados, bons cristãos em suma, a salvação não será vossa (Heb. 12:14 e Mat. 15:14).

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

UM GUIA SEGURO PARA O CÉU - Joseph Alleine

UM CONVITE AOS PECADORES PARA SE VOLTAREM PARA DEUS

Caros irmãos, sinto-me alegremente devedor para convosco, porquanto sendo despenseiro da casa de Deus, terei de distribuir a cada um aquilo de que necessita. Tal como o médico tem um carinho especial para os seus doentes graves, e o pai uma ternura particular para um filho moribundo, assim as almas que não se convertem precisam que se compadeçam delas, retirando-as do fogo a que estão destinadas. É a elas que me dirijo em primeiro lugar com as palavras que vão seguir-se.
Mas onde irei buscar a minha argumentação? Como conquistá-las? Oh! Se me compreendessem! É com lágrimas que escrevo, mas oxalá pudesse ser com o sangue das minhas veias e de joelhos a pedir-lho! Como daria graças a Deus se me ouvissem, e arrepiassem caminho, voltando para Deus.
Tantos anos me sacrifiquei por vós! E para quê? Para vos indicar o bom caminho! Com este fim orei e estudei tantos e tantos anos, para que finalmente vos voltásseis para Deus. E se fosse agora? Quereis que vos peça mais alguma coisa?
«Mas, ó Senhor, como me sinto incapaz de tal empresa! Como lhes farei sentir que têm o coração duro como uma pedra? Vou porventura pregar no cemitério, esperando que os mortos me obedeçam e ressuscitem? Vou fazer oração pelos rochedos, gritar perante as montanhas, julgando que se moverão com as minhas palavras? Acaso os cegos irão recuperar a vista? Desde o princípio do mundo nunca se ouviu que alguém abrisse os olhos a um cego (João 9:32). Mas, ó Senhor, tu podes abrandar o coração do pecador. Eu levo o arco ao acaso. Tu farás a pontaria, e não errarás o alvo. Elimina o pecado, e salva a alma do pecador que se dignar ler este livro».
Para entrar no céu é preciso passar pela estreita senda do segundo nascimento, pois sem a santidade não podereis ver a Deus (Hebr. 12:14). Por conseguinte é a ocasião propícia de vos entregardes ao Senhor. Procurai-O agora mesmo, e colocai-O no coração. Beijai o Filho (Salmo 2:12) e abraçai as ofertas de misericórdia; aproximai-vos dele e vivereis. Morrer, porquê? Nada quero para mim. E para vós, apenas a felicidade eterna. É este o prémio que pretendo para a minha carreira. Pela vossa salvação peço a Deus continuamente (Rom. 10:1).
Não leveis a mal que fale com o coração nas mãos, com franqueza e sincera amizade. Não sou orador, nem tenho pretensões a tal; por isso evito tudo aquilo que vos leve a supor que pretendo agradar simplesmente. A mensagem que trago é só esta: convencer-vos, converter-vos, salvar-vos. Fujo da retórica, porque não quero aplausos, mas as vossas almas. O meu objectivo é salvar, e não agradar. Não quero coisas, quero corações. Sem estes nada posso fazer. Se fosse para vos agradar, falar-vos-ia de outro modo. Para falar de mim, outro rumo seguiria. Poderia contar-vos histórias mais curiosas que a de Micaias (I Reis 22:8), mais suaves e menos duras, mas quão melhores são as censuras do amigo que as palavras lisonjeiras do que só pretende a nossa ruína? (Prov. 7:21-23 e 6:26). Se tivesse de acalmar uma criança rabugenta, bastava cantar-lhe, ou embalá-la docemente. E se ela caísse na lareira? Continuava a cantar ou a embalá-la? Teria de utilizar medidas mais enérgicas, não é verdade? Eu sei que estais perdidos se falharem as minhas palavras. Se não vos levantardes para me acompanhar, estais perdidos para sempre. Nem conversão, nem salvação! Ou me seguis de bom grado, ou vos deixo no pecado.
Mas volto a lembrar-me das dificuldades. «Ó Senhor, escolhe as minhas pedras de regato (I Sam. 17:40,45). Eu venho em nome do Senhor dos Exércitos, o Deus dos Exércitos de Israel. Como o jovem David contra Golias, saio para lutar não contra a carne e o sangue, mas contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século (Efés. 6:12). Que o Senhor hoje vença os filisteus, despoje os soldados das suas armaduras, e que me ofereça os cativos. Senhor, escolhe-me as palavras e as armas; e quando me preparar para atirar a pedra, dirige-a, não direita à fronte, mas ao coração do pecador que não se converte, e derruba-o como fizeste a Saulo de Tarso (Actos 9:4)».
Muitos de vós não sabeis o que entendo por conversão, por isso vou tentar explicá-lo. Primeiramente direi então o que é a conversão.
Outros alimentam esperanças de misericórdia, embora continuem na apatia. Para esses falarei da necessidade da conversão.
Alguns julgam-se já convertidos. Vou desiludi-los, apresentando-lhes as características dos que não se convertem.
Outros ainda vivem transuilos, sem saber dos perigos que os espreitam. Para eles falarei das misérias dos que não se convertem.
A quem não sabe como resolver a sua situação religiosa, direi quais os meios da conversão.
Finalmente, terminarei apontando a todos os motivos para a conversão.

UM GUIA SEGURO PARA O CÉU - Joseph Alleine

UM CONVITE AOS PECADORES PARA SE VOLTAREM PARA DEUS

Caros irmãos, sinto-me alegremente devedor para convosco, porquanto sendo despenseiro da casa de Deus, terei de distribuir a cada um aquilo de que necessita. Tal como o médico tem um carinho especial para os seus doentes graves, e o pai uma ternura particular para um filho moribundo, assim as almas que não se convertem precisam que se compadeçam delas, retirando-as do fogo a que estão destinadas. É a elas que me dirijo em primeiro lugar com as palavras que vão seguir-se.
Mas onde irei buscar a minha argumentação? Como conquistá-las? Oh! Se me compreendessem! É com lágrimas que escrevo, mas oxalá pudesse ser com o sangue das minhas veias e de joelhos a pedir-lho! Como daria graças a Deus se me ouvissem, e arrepiassem caminho, voltando para Deus.
Tantos anos me sacrifiquei por vós! E para quê? Para vos indicar o bom caminho! Com este fim orei e estudei tantos e tantos anos, para que finalmente vos voltásseis para Deus. E se fosse agora? Quereis que vos peça mais alguma coisa?
«Mas, ó Senhor, como me sinto incapaz de tal empresa! Como lhes farei sentir que têm o coração duro como uma pedra? Vou porventura pregar no cemitério, esperando que os mortos me obedeçam e ressuscitem? Vou fazer oração pelos rochedos, gritar perante as montanhas, julgando que se moverão com as minhas palavras? Acaso os cegos irão recuperar a vista? Desde o princípio do mundo nunca se ouviu que alguém abrisse os olhos a um cego (João 9:32). Mas, ó Senhor, tu podes abrandar o coração do pecador. Eu levo o arco ao acaso. Tu farás a pontaria, e não errarás o alvo. Elimina o pecado, e salva a alma do pecador que se dignar ler este livro».
Para entrar no céu é preciso passar pela estreita senda do segundo nascimento, pois sem a santidade não podereis ver a Deus (Hebr. 12:14). Por conseguinte é a ocasião propícia de vos entregardes ao Senhor. Procurai-O agora mesmo, e colocai-O no coração. Beijai o Filho (Salmo 2:12) e abraçai as ofertas de misericórdia; aproximai-vos dele e vivereis. Morrer, porquê? Nada quero para mim. E para vós, apenas a felicidade eterna. É este o prémio que pretendo para a minha carreira. Pela vossa salvação peço a Deus continuamente (Rom. 10:1).
Não leveis a mal que fale com o coração nas mãos, com franqueza e sincera amizade. Não sou orador, nem tenho pretensões a tal; por isso evito tudo aquilo que vos leve a supor que pretendo agradar simplesmente. A mensagem que trago é só esta: convencer-vos, converter-vos, salvar-vos. Fujo da retórica, porque não quero aplausos, mas as vossas almas. O meu objectivo é salvar, e não agradar. Não quero coisas, quero corações. Sem estes nada posso fazer. Se fosse para vos agradar, falar-vos-ia de outro modo. Para falar de mim, outro rumo seguiria. Poderia contar-vos histórias mais curiosas que a de Micaías (I Reis 22:8), mais suaves e menos duras, mas quão melhores são as censuras do amigo que as palavras lisonjeiras do que só pretende a nossa ruína? (Prov. 7:21-23 e 6:26). Se tivesse de acalmar uma criança rabugenta, bastava cantar-lhe, ou embalá-la docemente. E se ela caísse na lareira? Continuava a cantar ou a embalá-la? Teria de utilizar medidas mais enérgicas, não é verdade? Eu sei que estais perdidos se falharem as minhas palavras. Se não vos levantardes para me acompanhar, estais perdidos para sempre. Nem conversão, nem salvação! Ou me seguis de bom grado, ou vos deixo no pecado.
Mas volto a lembrar-me das dificuldades. «Ó Senhor, escolhe as minhas pedras de regato (I Sam. 17:40,45). Eu venho em nome do Senhor dos Exércitos, o Deus dos Exércitos de Israel. Como o jovem David contra Golias, saio para lutar não contra a carne e o sangue, mas contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século (Efés. 6:12). Que o Senhor hoje vença os filisteus, despoje os soldados das suas armaduras, e que me ofereça os cativos. Senhor, escolhe-me as palavras e as armas; e quando me preparar para atirar a pedra, dirige-a, não direita à fronte, mas ao coração do pecador que não se converte, e derruba-o como fizeste a Saulo de Tarso (Actos 9:4)».
Muitos de vós não sabeis o que entendo por conversão, por isso vou tentar explicá-lo. Primeiramente direi então o que é a conversão.
Outros alimentam esperanças de misericórdia, embora continuem na apatia. Para esses falarei da necessidade da conversão.
Alguns julgam-se já convertidos. Vou desiludi-los, apresentando-lhes as características dos que não se convertem.
Outros ainda vivem tranquilos, sem saber dos perigos que os espreitam. Para eles falarei das misérias dos que não se convertem.
A quem não sabe como resolver a sua situação religiosa, direi quais os meios da conversão.
Finalmente, terminarei apontando a todos os motivos para a conversão.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Interessantes Notas Biográficas

Uma boa leitura é como um bom prato que nos é servido. Os gostos podem ser esquisitos, no que concerne a ementas e estranhados por terceiros. De igual modo, as leituras. Ao compartilhar apontamentos da vida de um santo homem de Deus do séc. 17, espero, com o serviço, agradar aos nossos leitores e trazer-lhes muito proveito.

JOSÉ ALLEINE
Nasceu no seio duma família puritana [concepção da fé cristã desenvolvida na Inglaterra por uma comunidade de protestantes radicais depois da reforma] em Devizes (Wiltshire), na Inglaterra e foi baptizado em 8 de Abril de 1634. A sua pátria atravessava então uma situação deveras difícil que a levaria em breve à guerra civil, e ainda Alleine não tinha os seus dez anos quando viu abalada a Praça do Mercado, onde se encontrava a casa em que vivia, atingida pelos canhões dos monárquicos, que se apressaram a chamar às fileiras todos os puritanos para combater na batalha de Roundway (Julho de 1643). Dois anos mais tarde, os acontecimentos modificaram-se, e Cromwell viu a bandeira azul do Parlamento flutuar no topo do velho castelo, mesmo defronte da casa de infância de Alleine, cuja família passou então por grandes provações. Em consequência da guerra, seu pai atravessou graves crises económicas, embora, como tecelão, tivesse uma situação privilegiada, graças ao sacrifício de muitos anos de trabalho. Para cúmulo da infelicidade, o filho mais velho, Eduardo, já no ministério, acabava de morrer. Estávamos em 1645.
Nesse mesmo ano viu-se Alleine fazendo progressos no seio da comunidade cristã, e insistindo nos estudos que pretendia seguir, a fim de suceder ao irmão no trabalho do ministério. Assim o vemos partir em Abril de 1649 para Oxford, onde teve como mestres os já famosos João Owen e Tomás Goodwin. Em Novembro de 1651 transitou do Colégio Lincoln para o Corpus Christi, já sob a presidência do piedoso Dr. Eduardo Stauton, que se preparava para fazer daquele estabelecimento de ensino um bom seminário puritano. Foi aqui que Alleine se formou em Letras em 6 de Julho de 1653, exercendo em seguida os cargos de professor e capelão. Por influência de Alleine, em Oxford, é que em 1660 Henrique Jessey podia escrever: «Julgo que nada no mundo se pode comparar com o Corpus Christi, onde uma multidão de jovens prestava culto a Deus em toda a pureza e santidade. Era um verdadeiro Paraíso, mas agora (depois dele sair) não passa dum deserto ermo e infrutífero».
Os anos que Alleine passou em Oxford caracterizaram-se pela piedade e pela diligência nos estudos. Dotado duma disposição afável, conquistou muitos amigos, apenas não lhes consentindo que o interrompessem quando estudava. Despedia-os até, dizendo: «É preferível que me julguem pouco atencioso e até rude, do que eu venha a perder o meu tempo. Porque são poucos os que nisso reparam, mas muitos sabem o que é perder o tempo». Como capelão procurou evangelizar as aldeias da vizinhança de Oxford, e de quinze em quinze dias pregava aos encarcerados, visitando-os na prisão. Tal era a preparação que levava para o seu futuro ministério. Com pouco mais de vinte anos já desejava ardentemente a conversão das almas, por quem derramava lágrimas e orava constantemente.
Não admira, pois, que o ilustre teólogo puritano Jorge Newton (1602-1681), pastor de Santa Maria Madalena, em Taunton, o convidasse para seu assistente em 1655. Taunton, pequena cidade de 20 000 habitantes, célebre pela indústria dos lanifícios, era considerada uma fortaleza puritana no Ocidente da Inglaterra. O espírito da cidade manifestara-se dez anos atrás, quando, com heróica firmeza, resistiu a vários cercos impostos pelos monárquicos, se bem que metade das casas fossem destruídas por um tiroteio violento de granadas e muitos dos habitantes mortos de fome! Foi aqui, no meio destas colinas, destes prados e destes pomares de Somerset que Alleine passou o seu curto mas inolvidável ministério.
Apenas iniciou a sua obra em Taunton, em 4 de Outubro de 1655 desposou a prima Teodósia Alleine, mulher de rara espiritualidade, que renunciou ao lar para acompanhar o marido no ministério. A única «falta» que lhe encontrava era a de não passar mais tempo junto dela, mas por vezes a resposta era esta: «oh, minha querida! Eu sei bem que a tua alma está salva! Mas quantas tenho eu de vigiar para que não pereçam? Oh, se eu pudesse fazer mais por elas!» Toda a vida de Alleine corresponde ao que muitas vezes costumava dizer: «Tragam-me um cristão que considere o seu tempo mais precioso que o ouro». Ao começar uma nova semana, era frequente ouvi-lo exclamar: «Mais uma semana diante de nós! Gastemo-la no serviço do Senhor!» E todas as manhãs: «Vivamos bem este dia». «Enquanto teve saúde – escreve a esposa – levantava-se às quatro horas, ou até antes, e aos domingos mais cedo ainda, se possível; muito se aborrecia se ouvisse lá fora o ruído dos ferreiros, sapateiros, pedreiros ou outros artífices e operários a iniciarem o seu dia de trabalho, antes que ele cumprisse os seus deveres para com Deus. Então dizia-me: - Este barulho envergonha-me! O meu Senhor não merece mais que os deles? Das quatro às oito passava o tempo em oração, em santa contemplação, cantando salmos (tanto do seu agrado!) e cumprindo todos os seus deveres para com Deus, sozinho, e também com a família, como era costume».
O casal dedicou-se de alma e coração à causa das almas. Teodósia fundou uma escola em sua própria casa, enquanto o marido cinco tardes por semana atendia sem cessar às necessidades urgentes dos incrédulos, organizando mesmo um catálogo com os nomes de todos os habitantes de cada rua, a fim de poder mais facilmente visitá-los e pregar-lhes as verdades da fé. O resultado, como não podia deixar de ser, foi uma numerosa colheita de almas, pela qual ele e a esposa davam graças a Deus, vendo em tão poucos anos tantos convertidos, que antes mal conheciam a Deus. «Graças às suas súplicas e fervorosas exortações, sempre cheias de zelo e de vigor – escreve Jorge Newton – confundiam-se totalmente os ouvintes, de tal modo os enternecia e lhes abrandava os corações». É evidente que mesmo numa época em que a pregação vitoriosa do Evangelho era relativamente comum, o ministério de Alleine sobressaía ao dos seus irmãos. «Poucas épocas da história produziram tão eminentes pregadores, como a de José Alleine» - declarou o puritano Olivério Heywood. E Baxter alude à «sua grande habilidade ministerial na explicação e na aplicação das Escrituras, tão terna, tão convincente, tão poderosa».
Mas novos acontecimentos o esperavam, após a morte de Cromwell que ocorreu três anos depois. Só mais dois anos, e os sinos de Taunton repicaram festivamente a dar as boas-vindas a Carlos II, o restaurador da monarquia (1660). Foi, porém, sol de pouca dura a iluminar o coração dos puritanos, que depressa viram desaparecer aquela era de fervor cristão, que descera sobre o país. É que em 1662, pelo infame Acto de Uniformidade, 2000 dos melhores ministros que a Inglaterra jamais tivera, foram pura e simplesmente proibidos de pregar a Palavra de Deus. Dos oitenta e cinco da província de Somerset faziam parte, naturalmente, Newton e Alleine. Mesmo assim Alleine não se conformou. Como conta a esposa, pôs de parte todos os outros estudos, pois sabia que não era longo o seu tempo, e dedicou-se activamente à pregação. Pregava catorze vezes na semana, por vezes dez, e quase sempre seis e sete. Por fim, após muitas ameaças, Alleine recebeu uma intimação a 26 de Maio de 1663. Na noite seguinte reuniu os seus fiéis, cerca das duas da madrugada, tendo comparecido prontamente numa multidão de crentes de todas as idades e condições. Pregou e orou com todos durante cerca de três horas. No dia seguinte foi conduzido à prisão de Ilchester. Libertado um ano depois, viu-se envolvido em outros processos. Continuou, todavia, a pregar em segredo até 10 de Julho de 1666, embora fisicamente abalado. Nessa tarde, quando pregava sobre o Salmo 147:20 numa casa particular, abriram-se as portas e Alleine foi conduzido novamente para a prisão. Mais uma vez foi posto em liberdade; e com novas energias espirituais julgava-se com dever a fazer mais ainda pela causa do Evangelho. «Temos mais um dia, diria à esposa ao levantar-se, mais um dia para Deus; vivamo-lo bem, trabalhando arduamente pelas almas; juntemos mais tesouros no céu, porque vai-se aproximando o tempo de deixar este mundo». Teodósia conta-nos como, com verdadeiro espírito puritano, os seus pensamentos se voltaram para a possibilidade de ir missionar no País de Gales ou até para a China. Nunca o Evangelho de Jesus Cristo inflamou tão ardentemente um coração inglês! Mas a sua obra aproximava-se do fim, pois a constituição física ficara profundamente abalada com os maus tratos nas prisões e o seu corpo definhava lentamente. Em 17 de Novembro de 1668, com a idade de trinta e quatro anos, Deus abrandou-lhe o sofrimento, chamando-o para junto de Si. Acompanhou o corpo o piedoso Newton até junto da sepultura na igreja, onde outrora ressoaram as palavras e os conselhos de «alarme» a todos os incrédulos.
«Um Guia Seguro Para O Céu» engloba a substância da mensagem de Alleine e podemos considerá-lo um verdadeiro modelo de evangelismo puritano. A construção da frase pode variar de época para época, assim como os dons de homem para homem, mas aqui, podemos afirmá-lo categoricamente, são os princípios que devem estar presentes em qualquer autêntica exposição do Evangelho. Muitos dos grandes evangelistas se inspiraram na leitura das suas mensagens. Jorge Whitefield, quando ainda estudante em Oxford, fala-nos nos seus diários do «muito que o beneficiou» o Alarme de Alleine. C.H. Spurgeon lembra como sua mãe lhe lia trechos de suas mensagens, quando ainda criança, aos domingos à noite, junto da lareira. «Lembro-me, ao acordar – acrescenta Spurgeon – que o meu primeiro pensamento ia para o Alarme de Alleine, ou para o Convite aos Incrédulos de Baxter. Oh! Que livros esses! Não os lia, devorava-os!...» Com o coração assim inflamado do fogo da teologia puritana, Spurgeon estava preparado para seguir as pisadas de Alleine e Whitefield.
Publicaram-se numerosas edições do livro “Um Guia Seguro Para O Céu” que apareceu a lume pela primeira vez em 1671. O Dr. Calamy assim alude a ele em 1702: «Milhões de pessoas devem dar graças pelos benefícios recebidos através deste livro, pois nenhum em língua inglesa (a não ser a Bíblia) se lhe pode comparar pelo número de exemplares que andam dispersos nas mãos de todos. Só vinte mil venderam-se com o título «Convite», ou «Alarme», e cinquenta mil com o título «Guia Seguro para o Céu», sendo trinta mil duma só edição». Como exemplo notável da influência deste livro, note-se o seguinte caso. Pelos fins do séc. 18, um ministro duma província da Escócia, homem de grande sabedoria, mas de pouco fervor evangélico, foi abordado por um editor-livreiro para traduzir o «Alarme» no dialecto da região, o gaélico. Folheou o livro e, achando-o interessante para o púlpito, começou a servir-se dele para as suas pregações, seguindo-se quase capítulo por capítulo. O resultado foi sensacional, pois despertou tanto as almas que durante muito tempo não se falava doutra coisa naquela província.
A divulgação desta biografia e da mensagem de José Alleine é acompanhada de oração para que chova sobre elas a bênção d’Aquele cuja palavra é «rápida e poderosa e mais aguda do que uma espada de dois gumes». «Toda a carne é como a erva, e toda a glória do homem como a flor da erva. Secou-se a erva e caiu a sua flor; mas a Palavra do Senhor permanece para sempre; e esta é a palavra que entre vós foi evangelizada» (1 Pedro 1:24-25).