sábado, 22 de agosto de 2009

UM GUIA SEGURO PARA O CÉU - Joseph Alleine

B – Os membros corporais
Aqueles que outrora foram instrumentos do pecado, são hoje pedras santas do templo do Deus vivo. Aquele que noutros tempos não honrara o seu corpo, agora possui esse vaso em santificação e honra, em temperança, castidade e sobriedade, e dedica-o ao Senhor.
Os olhos que outrora vagueavam desenfreados, altivos e cobiçosos, hoje entregam-se como os de Maria, à tarefa de chorar pelos pecados que cometeram, de contemplar a Deus nas Suas obras, de ler a Sua divina Palavra, e dedicando-se agora a observar os objectos de misericórdia e a procurar oportunidades de O servir.
Os ouvidos, que antes se abriam às palavras enganosas de Satanás, e que se compraziam em conversas desonestas, ou pelo menos frívolas, aplicam-se agora à porta da casa do Senhor e abrem-se aos Seus ensinamentos. «Fala, Senhor, que o teu servo escuta», dirão arrependidos, aguardando as Suas palavras como a terra sequiosa aguarda a chuva, e agradando-lhe mais que o alimento (Job 23:12), e mais ainda que os favos de mel (Salmo 19:10).
A cabeça antes repleta de intenções mundanas, eleva agora mais alto os seus pensamentos e aplica-se ao estudo da vontade de Deus, utilizando-a o homem mais para ganhar o pão do Céu do que o pão da terra. Como agradam a Deus tais pensamentos!
O coração, que era um lodaçal de prazeres imundos, transformou-se num altar de incenso, onde arde continuamente o fogo do amor divino, e do qual se elevam dia a dia os sacrifícios de oração e de louvor, e o suave incenso de santos desejos.
A boca tornou-se um poço de vida; a língua e os lábios, instrumentos para espalhar a verdade. O sal da graça condimentou-lhe a fala e tirou-lhe a corrupção (Col. 4:6), purificando o homem das suas conversas desonestas, da lisonja, da vanglória, das injúrias, da mentira, da blasfémia, que outrora saíam como relâmpago do Inferno, que era o seu coração (Tiago 3:6). A garganta, em tempos sepulcro aberto, emite agora a brisa suave da oração, e o homem exprime-se noutra língua, a língua de Canaan, e só está bem quando fala de Deus e de Cristo, e bem assim de assuntos respeitantes à outra vida. A boca é fonte de sabedoria e a língua trombeta dos louvores e da glória do Criador.
Fora, pois, com a hipocrisia! O convertido não imita o hipócrita, cujas mãos são brancas e puras exteriormente, mas cujo coração está cheio de veneno e podridão (Mat. 23: 27), como um forno cheio de prazer, de orgulho e de malícia. Tal como a estátua de Nabucodonosor, tem a cabeça dourada, porque cheia de sabedoria, mas os pés de barro, porque sendo mundanos e afectos, os caminhos a trilhar não podem deixar de ser imundos e sensuais. Ainda não é tudo.

C – A vida prática
O novo homem segue um rumo diferente (Efés. 2:2-3), porque a sua nova habitação é celestial (Fil. 3:20). Mal Cristo o chama pela graça eficaz, já ele está pronto a segui-Lo. Quando Deus lhe deu um novo coração, imprimindo-lhe no espírito a Sua lei, começou ele a andar nos caminhos de Deus e a guardar os Seus mandamentos. Embora perseguido pelo pecado, nunca este o dominará. Mesmo que cometa uma falta, trará sempre presente a lei e a vida de Jesus, que seguirá como modelo, nunca deixando de respeitar os mandamentos de Deus. Desde o mais pequeno pecado até à maior das obrigações, tudo lhe será presente. As suas enfermidades serão motivo para dar graças a Deus e não para desanimar ou desesperar. (Leitor amigo, não deixes de reparar bem nesta doutrina!). O convertido sincero não tem duas caras: uma em casa e outra na igreja. Uma, de joelhos, na igreja, e outra enganando, na loja. Não pretende piedade, desprezando a moralidade. Mas volta-se do pecado e guarda todos os mandamentos de Deus, embora não perfeitamente. Agora alegra-se com a Palavra de Deus, abre as mãos e a alma aos famintos. Rompe com o pecado, praticando a justiça, e com a iniquidade, usando de misericórdia para com os pobres (Daniel 4:27). Tem uma consciência recta disposta em tudo a viver honestamente (Heb. 13:18) e a conservar-se sem ofensa diante de Deus e dos homens.
Aqui de novo encontrais o erro daqueles que se julgam bons cristãos. Não são imparciais na lei (Mal. 2:9). Iniciam as suas obrigações religiosas, embora de pouca monta, mas não vão avante na empresa. São como um bolo, meio cozido e meio cru. Podeis até considerá-los correctos, pontuais, mas na prática não se exercitam na santidade. Quanto a examinarem a consciência e a dominarem o coração, não é com eles. Podeis vê-los pontualmente na igreja, mas segui-o em casa e vereis como lhe interessam mais os negócios do mundo. Caso tenham deveres familiares, se os seguirdes mais de perto ainda vereis como nada se preocupam com a alma. Pode ser que pareçam na realidade bons cristãos, mas não refreiam a língua, e portanto é inútil a sua religião (Tiago 1:26). Pode ser que não deixem de orar, mas se os observardes ao balcão da sua loja, aí os vereis mentindo e enganando sem escrúpulos. É por isso que o hipócrita nunca pode ser um bom cristão.

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