sexta-feira, 14 de agosto de 2009

UM GUIA SEGURO PARA O CÉU - Joseph Alleine

ERROS ACERCA DA CONVERSÃO

O Diabo inventou vários tipos falsos de conversão, com que ilude a boa fé dos simples. E é tal a força e o artifício dessa ilusão que, se fosse possível, os próprios eleitos seriam arrastados também nessa onda. Agora, para afastar do erro os que pensam que já estão convertidos e de facto não estão, e dissipar os temores dos que ainda não se julgam no bom caminho e, na realidade, já lá se encontram, vou falar da natureza da conversão, dizendo primeiramente o que não é.

Converter-se não é professar o Cristianismo. O Cristianismo é mais que um nome. Se ouvirmos a voz de Paulo, veremos que é poder e é virtude (I Cor. 4:20). Se o deixar de ser judeu ou pagão e professar o Cristianismo fosse uma verdadeira conversão (como muitos talvez pensem), que melhores cristãos queremos que os de Sardes ou Laodiceia? Todos eles eram cristãos, mas só de nome; por isso Cristo os condenou e ameaçou de os abandonar definitivamente (Apoc. 3:14-16). Não há muitos que invocam o nome de Jesus, e não se afastam da iniquidade (II Tim.2:19), dizendo conhecer a Deus mas negando-O por obras? (Tito 1:16). Será que Deus os considera realmente convertidos? Como?! Converter-se do pecado, e nele continuar a viver? Que contrasenso! Certamente se tivessem prontas as lâmpadas da fé, as virgens loucas não teriam ficado fora da porta (Mat. 25:12). Não somente vemos excluídos falsos cristãos, mas até pregadores de Cristo, e apenas porque praticam a iniquidade (Mat. 7: 22-23).

Converter-se não é revestir-se das insígnias de Cristo no baptismo.
Ananias e Safira, e o próprio Simão Mago, foram baptizados como os restantes. Quantos caem em erro, enganando e sendo enganados, ao pensar que a graça eficaz está necessariamente ligada à administração externa do baptismo, de tal forma que todo o baptizado automaticamente se regenera, não só sob o ponto de vista sacramental, mas real e em todo o sentido da palavra. Daí imaginam que por serem regenerados no baptismo, não há necessidade de outra obra. Mas, se assim fosse, todos os baptizados seriam infalivelmente salvos, porque a promessa do perdão e a salvação foram feitas à conversão e regeneração (Actos 3:19 e Mat. 19:28). Com efeito, se conversão e baptismo se identificam, basta à hora da morte ter presente o certificado do baptismo para, em presença dele, se ter a certeza de entrar no Céu.
Em suma, se para a conversão ou regeneração basta o baptismo, não fala verdade a Escritura, por exemplo em Mat. 7:13-14. Sendo assim, não mais diríamos: «Estreita é a porta, e estreito o caminho», porque se todos os baptizados se salvam, a porta seria bastante larga e diríamos então: «Larga é a porta, e largo o caminho que conduz à vida». Neste caso, milhares e milhares podem caminhar lado a lado, e nunca mais diremos que os justos dificilmente se salvarão ou que o reino dos céus se conquista pela violência (I Pedr.4:18; Mat. 11:12 e Luc. 13:24). Se o caminho é tão fácil, como muitos supõem, certamente pouco mais é necessário do que ser baptizado e clamar: «Senhor, tem misericórdia de mim». Não é preciso sequer procurar, bater à porta, lutar, como a Palavra de Deus determina. Sendo assim, não diremos: «Poucos o encontrarão», mas: «Poucos o perderão». Também não voltaremos a exclamar: «Muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos» (Mat. 22:14), nem que «sendo muitos os filhos de Israel, só um remanescente será salvo» (Rom. 9:27). Se esta doutrina fosse verdadeira, não perguntaríamos com os discípulos: «Quem será salvo?», mas antes: «Quem não será salvo?» Sendo assim, se alguém for baptizado, mesmo que seja impuro, murmurador avarento ou beberrão, será herdeiro do reino dos céus! (I cor. 5:11 e 6:9,10).
Muitos irão objectar: «Mas todos aqueles que pecarem, depois de terem recebido a graça regeneradora no baptismo, precisam de ser renovados, ou então não se salvarão».
Primeiramente, há uma infalível relação entre a regeneração e a salvação, como já vimos.
Em segundo lugar, é preciso nascer de novo, o que parece um absurdo. Seria possível nascer duas vezes na natureza, ou fisicamente, tal como é possível na graça ou espiritualmente.
Finalmente e acima de tudo, é esta graça que concede tudo quanto se pretende receber no baptismo, mas se pouco depois caírem na ignorância e perderem o poder da santidade, então necessitam absolutamente de «nascer de novo» (João 3:7) ou então ser-lhe-ão fechadas as portas do Céu.
Independentemente do que se recebe no baptismo, se não possuírdes a santificação, é necessária uma renovação por meio de uma mudança radical e eficaz, ou então não escapareis à condenação do Inferno. «Nada de ilusões; com Deus não se brinca». Seja qual for o vosso baptismo, sejam quais forem as vossas intenções, garanto-vos da parte do Deus vivo que, se não fordes homens de oração, evitando a murmuração e as más companhias (Prov. 13:20), numa palavra, se não fordes santos, desinteressados, bons cristãos em suma, a salvação não será vossa (Heb. 12:14 e Mat. 15:14).

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