segunda-feira, 17 de agosto de 2009

UM GUIA SEGURO PARA O CÉU - Joseph Alleine

NATUREZA DA CONVERSÃO

Não tenho coragem de vos deixar com os olhos semicerrados, como aquele que «via os homens como se fossem árvores ambulantes». Com a Palavra de Deus doutrinamos e repreendemos. Por isso, tendo-vos conduzido através dos baixios e das rochas de tão perigosos erros, quero agora guiar-vos para o porto da verdade, descrevendo a natureza da conversão.

1.O Autor da conversão é o Espírito de Deus e, por isso, é chamada «a santificação do Espírito» (II Tess. 2:13) e «a renovação do Espírito Santo» (Tito 3:5). Este facto não vem excluir as outras pessoas da Trindade, pois o apóstolo ensina-nos a bendizer o Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, «que nos gerou de novo para uma viva esperança» (I Ped. 1:3). De Cristo diz-se que «dará o arrependimento a Israel» (Actos 5:31). Isaías chama-lhe «Pai Eterno» (Isaías 9:6) e nós somos a Sua descendência e «os filhos que Deus Lhe deu» (Heb. 2:13). Como é obra principal do Espírito, daí dizer-se que devemos «renascer do Espírito» (João 3:5-6).
A conversão é, por conseguinte, algo que supera o poder humano. «Não nascemos do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus» (João 1:13). Não penseis que a conversão pode ser obra vossa. Em tal caso, superando as vossas forças, viria de mais longe, ou melhor, de mais acima. É uma ressurreição dos mortos (Efés. 2:1), uma nova criação (Gál. 6:15; Efés. 2:10), uma obra de absoluta omnipotência (Efés. 1:19). Ora tudo isto não está fora do alcance das forças humanas? Se pelo primeiro nascimento conseguistes uma natureza afável, um temperamento meigo e casto, ainda estais longe da verdadeira conversão, porque tudo isso não basta. Há ainda algo de sobrenatural.

2. A causa eficiente da conversão é tanto interna, como externa.
A – A causa interna é a graça livremente concedida. «Não é pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a Sua misericórdia, que nos salvou» e ainda «pela renovação do Espírito Santo» (Tito 3:5). «De Sua vontade nos gerou» (Tiago 1:18). «Escolheu-nos para a santificação» (Efés. 1:4).
Deus nada encontra no homem que Lhe inspire amor; só tédio e, se possível, rancor. Reconsidera, ó cristão! Pensa na tua natureza imunda, no lodaçal em que em tempos te revolveste com prazer! (II Ped. 2). Eis aí a tua corrupção! Até o próprio vestuário te há-de abominar (Job 9:31). Como é que a santidade e a pureza te hão-de amar? Reparai, ó céus! Toma atenção, ó terra! Quem precisa de gritar: Graça! Graça! (Zac. 4:7). Ouvi e envergonhai-vos, ó filhos do Altíssimo! Ó ingratos, que assim desprezais a graça de Deus. Muitos até julgam que louvais e admirais a Deus incessantemente e em toda a parte. Porque desperdiçais tão grande graça?Foi por ela que Deus vos amou! Com que santos afectos Pedro ergue as mãos e exclama: «Bendito seja o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a Sua grande misericórdia, nos gerou de novo» (I Ped. 1:3). E Paulo, quão expressivamente engrandece a misericórdia de Deus, «riquíssimo em misericórdia pelo Seu muito amor com que nos amou, vivificando-nos juntamente com Cristo. E pela graça sois salvos!» (Efés. 2:4-5).
B – A causa externa é o mérito e a intercessão de Jesus. Dons, obteve-os até para os rebeldes (Salmo 78:18), e por Ele Deus opera em nós aquilo que é agradável na Sua presença (Heb. 13:21). Por Ele as bênçãos espirituais são distribuídas dos céus (Efés. 1:3). Intercede pelos que não crêem (João 17:20). Toda a conversão é fruto da Sua obra. Nenhum ser humano que vem a este mundo sofre tanto como Cristo sofreu por nós, em especial na cruz. Ele nos trouxe a santificação (I Cor. 1:30). Santificou-se a Si, isto é, separou-se como sacrifício, para que fôssemos nós santificados (João 17:19). Santificamo-nos então pela oferta do Seu corpo uma vez para sempre (Heb.10:10).
Só o mérito e a intercessão de Cristo, como vemos, pode conceder-nos, perante Deus, a graça da conversão. Se sois uma nova criatura, sabeis mui bem a quem o deveis: Aos sofrimentos e às orações de Cristo. Tal como a criança procura avidamente o seio materno, assim o crente busca Jesus Cristo. Se alguém no mundo fizer por ti o que Cristo fez, segui-lo não é erro. Satanás reclama-vos? O mundo acaricia-vos? O pecado deseja conquistar-vos o coração? Mas como? Quem morreu na cruz por vós? Estes ou Cristo? Portanto, ó cristão, não deixes de amar e servir ao Senhor enquanto viveres neste mundo.

3. O instrumento da conversão é pessoal e real.
A – O instrumento pessoal é o ministro. «Em Cristo Jesus gerei-vos pelo Evangelho» (I Cor. 4:15) . Os ministros de Cristo são aqueles que foram enviados para nos abrir os olhos e conduzir-nos a Deus (Actos 26:18). Oh! mundo ingrato! Não sabias o que fazias, quando perseguias os mensageiros do Senhor! Não sabias que a missão deles era salvar-te? A quem censuraste e blasfemaste? (Isaías 3723). São estes os servos do Deus altíssimo que te traziam o caminho da salvação (Actos 16:17), e tu os recusaste, ó insensato e louco mundo! (Deut. 32:6). Ó filho da ingratidão, de quem escarneceis? São estes os instrumentos que Deus utiliza para converter e salvar os pecadores. Já se viu alguma vez ultrajarem-se os médicos ou lançarem-se ao mar os pilotos do navio? «Pai, perdoai-lhes, pois não sabem o que fazem».
B – O instrumento real é a Palavra de Deus. Fomos gerados pela palavra da verdade. É ela que ilumina os olhos e converte a alma (Salmo 19:7-8), e nos faz conhecer a salvação (II Tim. 3:15). Ela é a semente incorruptível pela qual nascemos de novo (I Ped. 1:23). Se nos lavamos e purificamos é pela Palavra (Efés. 5:26). Se fomos santificados é pela Verdade <8joão 17:17). É esta que gera a fé e nos regenera (Rom. 10:17; Tiago 1:18).
Como deveis, ó cristãos, amar essa Palavra, pela qual vos veio a salvação e a conversão! Vós que sentistes o seu poder renovador, estimai-a enquanto fordes vivos. Trazei-a bem fixa no coração. Quando caminhares, ela te guiará. Deitado, guardar-te-á. Acordado, falará contigo (Prov. 6:21-22). Dizei com o Salmista: «Nunca me esquecerei dos teus preceitos, pois por eles me tens vivificado» (Salmo 119:93). E vós, que ainda não estais convertidos, lede a Palavra de Deus com diligência. Reuni-vos onde ela é pregada. Orai pela vinda do Espírito na Palavra. Muitas vezes um sermão não tem o êxito devido porque não é banhado em lágrimas e orações.

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