MAS, E AS CONDIÇÕES RELIGIOSAS?
As mesmas condições positivas e negativas verificavam-se na religião em 1968. Por um lado, a religião nunca tinha estado tão bem. O rol de membros da Igreja crescera ao ponto mais alto de sempre. A contribuição financeira tinha estabelecido novos recordes. A construção de edifícios para as igrejas tinha feito a sua marca como um negócio florescente. Por outro lado, a religião nunca tinha estado tão mal, quer no púlpito, como nos bancos.
Por exemplo, um desacordo fundamental na comunidade católica romana começou com a QUESTÃO DO CONTROLE DA NATALIDADE. Abriu-se uma brecha profunda em 29 de Julho, quando o Papa Paulo VI emitiu sua encíclica "Sobre a Vida Humana." Ele reiterou enfaticamente que a Igreja Católica ainda se posiciona contra todos os meios artificiais de prevenir o parto. As reacções dos católicos franceses, 56 por cento dos quais estavam a favor da pílula e dos clérigos ordenados, que viam a decisão como uma crise de autoridade, foram intensas e fortes. Um editor de Nova York previu: "Podemos estar a ver muitos mais clérigos católicos a deixar a Igreja do que antes." Assim, o conflito religioso causou grande impacto na cena mundial.
Durante o ano, uma "revolução teológica" de círculos protestantes e católicos varreu a terra como fogo na pradaria. Os sacerdotes levantaram-se contra as tradições seculares. Ministros libertaram-se das amarras do formalismo para introduzir uma nova liberdade em sua fé. A pregação já não incluía apenas a salvação através de Cristo, mas a dimensão acrescida da ética, dos direitos e das liberdades humanos.
O Criador, o Deus do universo, não estava morto em 1968. A vida, em si, foi prova suficiente de que Deus estava muito vivo. No entanto, pelas vidas vividas, pelas palavras proferidas e pelas acções executadas na prática religiosa moderna, parecia que poucas pessoas experimentavam uma relação vital, dia-a-dia com o Deus vivo. E se a realidade de um Criador divino eram apenas uma questão de algumas palavras formais ou cerimónias de domingo, rapidamente esquecidas e ignoradas na segunda-feira, era bem verdade, para todos os efeitos práticos, que DEUS ESTAVA MORTO NA EXPERIÊNCIA ESPIRITUAL DE MUITOS MINISTROS E LEIGOS.
Entre os jovens, a "deserção espiritual" era o estilo livre. Para a malta hip*, Igreja estava definitivamente fora de questão. Um pastor recebeu uma carta contundente do decano de um colégio que tinha rabiscado em negrito duas perguntas sobre a face da carta: "O cristianismo tem alguma coisa para a geração que anda em busca de emoção?" e "Onde está a acção, hoje - alguma chance para com Deus?" A monotonia da religião moderna e as práticas incompatíveis entre a casa e a vida da igreja tinham-se finalmente colado à cena americana.
Dois professores de Escola Dominical conversavam em um almoço de empresários. Cada um era o instrutor de uma classe de adolescentes em sua respectiva igreja. Com a testa franzida, o primeiro homem observou como ele estava muito perturbado com o fraco interesse da classe e a frequência baixa na sua igreja. Ele disse: "Eu, seguramente, dou àquelas crianças toda a Bíblia. Cada semana cobrimos algum livro ou capítulo da Bíblia - versículo por versículo. Mas a classe ainda parece sem vida e morta. Qual é o meu problema?"
O segundo homem respondeu: "Eu entendo, mas você parece estar apenas a divulgar informação e palavras. O que esses jovens querem mais do que apenas 'informação acerca de Deus' é uma verdadeira experiência com Ele".
E continuou: "Se o jovem de hoje não encontrar suas emoções em Deus, ele irá procurá-las no mundo. Mas, que ele vai encontrar excitação e aventura, isso vai - mesmo que ele tenha que se tornar hippie e experimentar LSD para alcançá-las. Conferências bíblicas, cerimónias religiosas e encontros sociais de jovens não são rotas de fuga para um professor deste grupo explosivo chamado adolescente. Nós também temos que encarar os factos. A música rock, o namoro e as rodas da paixão são mais convidativos para jovens que andam à procura, tacteando, do que meros discursos religiosos constituídos de palavras sem vida. É tempo de o nosso mundo adulto acordar e demonstrar o nosso Deus à juventude de amanhã."
A classe deste homem estava sempre apinhada de adolescentes cada manhã de domingo, porque o seu grupo era confrontado com o Mestre vivo, e não simplesmente com a matéria da lição. Sua análise concluiu que o adulto desactualizado, indiferente e que adorava somente com os lábios era um mensageiro contribuinte para a ideia de que Deus estava morto para a geração nova.
Em 1968, o cenário religioso revelou a condição enigmática de que a igreja nunca tinha estado tão bem, em termos de assistência, ofertas e edifícios, mas nunca tinha estado tão mal em insatisfação e vazio espirituais profundos.
Richard L. Harding, Moody Press Chicago
____________
* "To hip" quer dizer tornar melancólico; tem a ver com a falta de emoção que a juventude experimentava por não encontrar sentido para a vida. Daí os hippies, que andavam à procura de emoções, longe dos caminhos da religião.
Sem comentários:
Enviar um comentário