NECESSIDADE DA CONVERSÃO
D - Finalmente, nem sequer dispõe dos instrumentos e dos materiais apropriados. Assim como não se pode trabalhar o mármore sem o cinzel, nem pintar sem pincéis e tintas, do mesmo modo não é possível cultuar a Deus sem as convenientes graças do Espírito, que vêm a ser os materiais e os instrumentos dessa obra gigantesca! Quem dá esmola não serve a Deus, a não ser que o faça por amor de Deus. Aliás, aquela acção não passará de fumo e vanglória. O que vem a ser a oração meramente vocal sem a graça no coração? Um esqueleto sem vida. Que interessa confessarmo-nos sem o mais ligeiro arrependimento? O que serão as nossas súplicas , se não forem animados de santos desejos e de fé nos atributos e nas promessas de Deus? O que serão os nossos louvores, as nossas acções de graças, se não brotarem espontaneamente do amor de Deus e da santa gratidão do amor e das mercês infinitas por Deus concedidas? Será mais fácil as árvores falarem, ou os mortos ressuscitarem, do que ser agradável aos olhos de Deus o culto prestado por quem se diz cristão, mas na realidade nem sequer passou pelo primeiro grau da perfeição, que é a conversão. Se a árvore não é boa, que há a esperar dos frutos?
Sem te converteres, vives para quê? És um coito de aves imundas (Apocalipse 18:2), um sepulcro cheio de ossos de mortos e de toda a imundície (Mateus 23:27). Que situação tão lastimável! Não te parece então urgente uma mudança radical na tua maneira de ser e de agir? Não te custa ver os preciosos vasos sagrados do templo de Deus profanados e ao serviço dos ídolos? (Daniel 5:2-3). Não sentirás uma certa repugnância como os judeus sentiram, quando Antíoco colocou a imagem dum porco à entrada do templo? Quanto mais repugnante não seria ter transformado o templo num estábulo ou nu ma pocilga, e mudado o santo dos santos em casa de Baal! Pois este é o caso dos que se não convertem. Todos os seus membros se tornam instrumentos de injustiça, servos de Satanás. O coração passará a ser um templo de imundície e de impureza, que podeis facilmente adivinhar pela série negra de abominações que dele procedem: «Maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituições, furtos, falsos testemunhos e blasfémias» (Mateus 15:19). Um verdadeiro inferno, não te parece?
Que tristeza, ver assim tão aviltada uma alma que nasceu para o Céu! Que horror, contemplar a glória da criação de Deus, a principal das obras de Deus, enxovalhada desta maneira! Como é de lamentar que os preciosos filhos de Sião, comparáveis a oiro puro, sejam agora reputados por vasos de barro, obra das mãos do oleiro; os que comiam iguarias delicadas desfalecem nas ruas; os que se criaram em carmesim abracem as estrumeiras (Lamentações 4:2,5). E não é ainda mais terrível ver o único ser que goza de imortalidade neste mundo, e que foi criado à semelhança de Deus, tornar-se um vaso sem graça e apenas ao uso dos mais sórdidos fins? Intolerável e indigno, não achas? Antes feito em mil pedaços do que prestar-se a tão vil serviço.
Joseph Alleine
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