NECESSIDADE DA CONVERSÃO
Salvar os homens que vivem no pecado repugnaria a todos os atributos de Deus:
a) À justiça, pois Deus recompensa cada um conforme as suas obras. Ora se os homens semeassem na carne , e no Espírito colhessem a vida eterna, onde se manifestaria a glória da divina justiça, visto que aquela se daria aos perversos tal e qual como aos justos?
b) À santidade, pois se Deus salvasse os pecadores e ainda por cima em pecado, a Sua Puríssima santidade seria destruída. Os que ainda se não santificaram, aos olhos da santidade divina, são como os animais imundos. Repugnaria por isso à infinita pureza de Deus co-habitar com esses animais, que, não podendo contemplar a Deus, têm de evitar a Sua presença. Se David os não quis em casa, nem diante de si (Salmo 101:3 e 7), que pensaremos a respeito de Deus? Do lodo transportará os homens para a glória dos céus? Daria a ideia que Deus não se encontra a grande distância do pecado, nem este Lhe desagrada muito. Era caso para se dizer, como alguns, que Deus também pertencia ao número dos pecadores (Salmo 50:21).
c) À veracidade. Deus disse lá do Céu que se alguém pensasse ter paz, ainda que andasse segundo o parecer do seu coração, fumegaria a ira do Senhor contra esse homem (Deuteronómio 29:19-20). E acrescentou que só encontraria misericórdia quem confessasse e abandonasse o pecado (Provérbios 28:13). Disse ainda que só subiria ao monte do Senhor quem estivesse limpo de mãos e puro de coração (Salmo 24:3 e 5). Onde estaria a verdade da Palavra divina se, não obstante tudo isto, a todos trouxesse a salvação, mesmo àqueles que não querem converter-se? Ó pecador obstinado, queres então que Cristo faça do Pai um mentiroso, anulando a Sua palavra para te salvar?
d) À sabedoria divina repugna ainda salvar o homem no pecado, pois seria contra este atributo desperdiçar uma das melhores mercês que Deus pode conceder, sobretudo a quem não a merece. De resto o pecador pouca importância dá à salvação. É o caso do doente que não dá ao médico o devido valor. Seria prudente forçar ao perdão e à vida os que não o agradecem? Acaso Deus vai lançar pérolas a porcos? Para se desprezarem as mercês recebidas? É que o eram mesmo! A sabedoria exige que se dê a vida em conformidade com a honra de Deus, e que Deus cuide da Sua glória, como não esquece a felicidade do homem. Seria uma desonra para Deus conceder as melhores riquezas a quem mais se compraz nos prazeres do pecado do que nos prazeres do Céu, que lhe são oferecidos. Deus perderia o louvor e a glória da Sua graça, se os concedesse a quem não só não os merece, mas até nem os quer.
Além disso, as mercês de Deus não são próprias para os que não se convertem. A sabedoria de Deus atribui a cada um o que mais lhe convém, acompanhado dos meios para o conseguir, da finalidade a ter em vista, etc. Ora se Cristo viesse trazer o Céu ao pecador não regenerado, não seria grande o benefício, porque não o compreenderia convenientemente. Melhor ficasse com aquilo que tem e nada mais. Outra coisa: que faria o pecador no Céu, sem a santificação? Nada o contentaria, pois nada lhe convém: nem o lugar, onde se sentiria deslocado, como o peixe fora da água; nem a companhia, porque não se coadunam as trevas com a luz, a corrupção com a perfeição, o pecado com a imortalidade; finalmente, nem a finalidade, que é cantar pela eternidade fora, os louvores de Deus, porque os cânticos celestiais não se adaptam à boca nem ao ouvido do pecador. Poderás deliciar um macaco com um concerto de música? Mesmo que lhe fosse possível, faltar-lhe-ia a vontade, e portanto não teria prazer nessa audição. Uma mesa repleta de manjares seria para um doente uma ofensa. Se o pecador já se aborrece dum longo sermão num dia de culto, o que diria desse culto magnífico que se realiza no Céu por toda a eternidade!
e) À imutabilidade repugna finalmente o salvar-se o pecador, ou então à omnisciência e à omnipotência divinas. Foi decretado nos céus que só os puros verão a Deus (Mateus 5:8). Ora se Cristo introduzisse no Céu um pecador, seria sem conhecimento do Pai, contra a Sua vontade, que portanto iria modificar, quer dizer, iria contra a omnisciência, a omnipotência e a imutabilidade de Deus.
Depois disto, ó pecador, ainda te obstinas no pecado, sem buscar a conversão? «Será a terra deixada por tua causa? Remover-se-ão as rochas do seu lugar?» (Job 18:4). Não será o teu caso? Porventura as leis do Céu irão alterar-se? Serão transtornados os fundamentos por tua causa? Irá Cristo ofuscar a omnisciência do Pai, ou por ti diminuir a força do Seu braço? Será por amor de ti violada a justiça divina? Oh! é impossível e absurda tal blasfémia! Pensar que Cristo te salvará nestas condições é fazer do Salvador um pecador também, é ofender a infinita Majestade, mais que todos os pecadores na terra ou os demónios no Inferno. E, depois disto, qual será o teu proceder? - Joseph Alleine
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